quinta-feira, 19 de abril de 2012

Dedicado à minha avó

Uma voz dizia-me:
-Há quanto tempo!?!
Eu apercebi-me que era uma voz muito novinha.
Noutro tempo era a minha avó.
Eu escrevia na casa dela,
onde sempre eu abria a porta
e a voz de Deus falava comigo.
O lápis que eu usava dançava
na minha imaginação.
 Toda a familia entrava e eu ouvia os passos.
O canto dos pássaros lembrava-me
os cantos das galinhas da minha avó.
Lembro-me quando ela tinha força para gritar.
Ela ensinou-me a voar.
Todas as vozes na casa dela,
para mim, eram um mistério.
Eu andava sempre à procura do mistério
e do sonho mas nunca os encontrei.
As vozes altas naquela sala,
são os muros que hoje tenho dificuldades em passar.
Estes passos que eu oiço são os tambores
que a minha avó tocava todos os dias para mim.
O barulho dos livros eram asas que me ajudavam.
O barulho das blusas era o vento,
porque quando eu ia apanhar laranjas,
sentia o vento na minha face.
A voz alta que eu ouvia todos os dias,
está hoje numa cama.
Eu, minha irmã, meu irmão e a minha mãe
iamos para o campo verde
onde eu sujava as camisolas todas.
As galinhas andavam sempre a cantar.
Os mexericos eram
quando a minha avó e a minha mãe
 reviravam a casa toda.
Agora apercebi-me que os barulhos de hoje
estão relacionados com o ontem.

Bruno,  10 anos,
19/4/2012

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